Histórico do bairro

O nome Fradinhos surgiu por volta de 1750. Na época três frades jesuítas (o francês Pierre de Bergue, o espanhol Alessandro e inglês Honeley) moravam num grotão, que hoje é conhecido como Sítio Todos os Santos. Durante o reinado de D. João I, dois frades foram repatriados pelo Marquês de Pombal, ficando apenas Honeley. Ainda nesta época, um garoto que morava nas redondezas ficou muito doente e seu pai fez uma promessa de que se ele melhorasse, o vestiria com um frade. O menino se recuperou e a promessa foi cumprida, passando, então, a vestir-se como um frade e sendo reconhecido como fradinho do grotão. Daí o nome do bairro até hoje. Existe outra versão para justificar o nome do bairro, que refere-se ao Pico Frei Leopardi (Pedra dos Dois Olhos) que, quando visto de um ponto a sudeste, se assemelha a um padre encapuzado. A área só começou a ser realmente ocupada na década de 70, quando os herdeiros da família Monjardim, Varejão e Dalma Almeida, este último proprietário da maior gleba, cerca de 100 mil m², começaram a lotear o local. Em 1973, a COHAB construiu algumas casas - uma Vila, o que contribuiu para movimentar a área. Fradinhos foi criado pela lei nº 1.689/66.

Fonte: Site da Prefeitura Municipal de Vitória.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Site Bairro Fradinhos - Vitória/ES entrevista o biólogo, ambientalista e fundador do Parque da Fonte Grande EDSON VALPASSOS


Edson Valpassos é biólogo, ambientalista e fundador do Parque da Fonte Grande. Segue ao final da entrevista o seu currículum


1 - O que levou você a se aproximar do ambientalismo ? Como foi o seu despertar para esta questão ?

Edson: Na verdade veio desde pequeno, quando morava na fazenda do meu pai em Montanha, e ao conhecer uma família de Italianos que eram vizinhos. Aprendi com um deles de nome Bonifácio a preparar insetos, inicialmente borboletas e mariposas para montar quadros, que me levou a conhecer seus hábitos, passando, por exemplo, a observar a transformação mágica da lagarta em pupa e depois em inseto adulto.

Mais tarde, já fazendo o segundo grau, fui influenciado pela dedicação do prof. Vitório Felsky com a biologia marinha, que me levou a decidir por escolher e fazer este curso na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde me formei em 1980. Durante a faculdade, tive o prazer de assistir duas palestras do Naturalista Augusto Ruschi, com vim a estagiar em seu Museu em Santa Tereza após a conclusão do curso, me apaixonando ainda mais pelas orquídeas, que tive oportunidade de aprender a admirá-las na casa da minha Vó Clotilde, no Rio de Janeiro onde nasci e fiz a faculdade.

Ao chegar em Vitória tive contato com outros biólogos, e com ambientalistas da ACAPEMA - Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente, onde fui vice-presidente por dois mandatos consecutivos, ajudando a promover diversas campanhas de conscientização contra a poluição industrial em Vitória, que na década de 80 atingia índices alarmantes. O envolvimento aconteceu também, através de lutas pró-criação de unidades de conservação como no caso dos parques Estaduais da Fonte Grande, Itaúnas, Setiba dentre outros.

2 - A luta do ambientalista é uma luta no melhor estilo de "David e Golias". Por que você tomou o lado de David, quando Golias é bem mais forte?

Edson: Bem se há algo que me revolta é injustiça e covardia, que é justamente o que muito fazem em relação a natureza, que não tem como se defender, e com certeza influenciado pela luta que via o Prof. Augusto Ruschi travar a favor da defesa da natureza, até contra o governador da época, Elcio Álvares, percebi que o sentido da minha vida seria semelhante, tendo portanto travado várias lutas contra diferentes Golias, ao longo de minha vida, a maioria vitoriosas, graças a Deus.

3 - Como foi a criação do Parque da Fonte Grande? E a da Associação dos Amigos do Parque da Fonte Grande? Qual a diferença entre o momento da criação de ambos e como se encontram hoje?

Edson: Trabalhava como biólogo no ITC - Instituto de Terras e Cartografia, atualmente IDAF, e recebi um processo volumoso, em 1984, que tratava de denuncias de desmatamento e queimadas nos morros do Mulungu, Santa Clara, Piedade e Fonte Grande. Tendo seguido até o alto do morro da TV, acompanhado pelo então Inspetor de Terras Hermes Rozetti, constatei que havia, de fato, algumas arvores cortadas, que eram usadas para fazer lenha pela população carente que habitava as partes superiores das encostas de alguns desses bairros e que não conseguiam comprar e levar botijas de gás ate suas residências.

Ao deparar-me com a magnífica visão da região do em torno da Pedra dos Dois Olhos, entendi que a única forma de se preservar os remanescentes da Mata Atlântica era criando um parque. Despachei dizendo que “a única forma de resolver o problema era através da criação de um parque; que teria, guardada as devidas proporções, tanta importância para a cidade de Vitória, quanto o Parque Nacional da Tijuca para a cidade do Rio de Janeiro", conclui sugerindo o nome de Parque Estadual da Fonte Grande, inspirado em um dos nomes dos morros em que havia o desmatamento, constante na capa do processo.

Sua criação ocorreu depois de três caminhadas ecológicas realizadas com o sentido de sensibilizar as autoridades e também com a queda da pedra do morro do Macaco, em Tabuazeiro que vitimou mais de quarenta pessoas, levando então o Governador Gerson Camata a iniciar o processo de criação do Parque através do Dec. 3.095-E de 30/09/85, conforme se observa na foto em anexo.

Entretanto, só foi efetivamente criado depois de muitas brigas, inclusive contra o ex-governador Jose Moraes e contra um grande fazendeiro residente em Fradinhos, que era o presidente da câmara de vereadores de Vitória na época. Queriam construir lá um loteamento, tendo chegado até se abrir uma estrada que destruiu 900m de floresta, mas que foi paralisada pela primeira ação civil publica a favor do meio ambiente, encabeçada pela ex-moradora de Fradinhos - a Denny. O parque na realidade só foi criado de fato, através da lei Lei 3.875, de 07/08/2006, de autoria do então deputado Paulo Hartung.


Foto 1 – Momento da criação do Parque da Fonte Grande pelo Governador Gerson Camata no centro a direita.

Foto 2 – Biólogo Edson Valpassos a direita junto com vários ambientalistas e a Denny à esquerda ao lado do Sr. Batan.

Quanto a AAPFG - Associação dos Amigos do Parque da Fonte Grande, esta surgiu bem depois da criação do Parque já em 2000, quando eu já trabalhava na PMV e estava à frente da implantação de um projeto financiado pelo Ministério do Meio Ambiente, que viabilizou a estrutura que conhecemos hoje no Parque da Fonte Grande. Na ocasião, alguns moradores de Fradinhos e de Tabuazeiro se organizavam, tendo a frente dentre outras pessoas o amigo Robson Côgo, para questionar a PMV e o então ITCF, do porque que o parque não estava sendo implantado. Foi quando a convite, participei das primeiras reuniões, esclareci a todos sobre a situação em andamento e ajudei na sua criação ocorrida em 6 de junho de 2000.

Bem, atualmente a administração feita pela PMV, tem deixado muito a desejar, tendo havido muito poucos investimentos, a exceção da pavimentação do acesso, que dentre outras falhas destaca-se a pouca importância dada a trabalhos consistentes de educação ambiental junto às escolas e comunidades do em torno, que se fosse efetiva poderia ter contribuído para a conscientização dos moradores, talvez evitando a ocorrência do maior incêndio que o parque já teve, que destruiu, em setembro de 2008, mais de 30 hectares de matas na região dos bairros Bela Vista e Inhanguetá. O retrato da importância que a PMV dá ao Parque pode ser medida pela total inexperiência das pessoas escolhidas para assumir a função de administrador de uma área publica tão importante.

Quanto a AAPFG, segue cumprindo o seu papel de acompanhar a administração publica, chamado à atenção para as irregularidades e necessidades de providencias, denunciando os erros e omissões quando preciso, a exemplo de nossa participação como conselheiro do COMDEMA, o conselho municipal de meio ambiente. Além disso, é claro de continuar divulgando a importância do parque, através participação na Feira do Verde e das caminhadas ecológicas, a exemplo da 9a caminhada que irá ocorrer no dia 7 de junho próximo, domingo, as 8hs onde todos os moradores estão convidados.

Entretanto estamos analisando para na gestão da próxima diretoria, agora em junho, da possibilidade de transformá-la em uma OSCIP – (organização da sociedade cível de interesse publico), para poder ampliar sua forma de atuação, permitindo, por exemplo, buscar recursos e parcerias com entidades públicas e privadas.

4 - Como foi a sua luta (e das pessoas que estavam com você) em 1985, para impedir que uma rodovia cortasse o parque?

Edson: Como já falei, foi uma daquelas em que o tamanho do(s) Golias e nem as ameaças não nos amedrontou, aliás acontece exatamente o contrário comigo, quanto maior o inimigo e a dificuldade da luta, maior a vontade de brigar e saborear a vitória. Destaco, entretanto, a importância do trabalho em equipe e a integração entre os participantes, pois se não fosse a mobilização dos moradores de Fradinhos, a dedicação de pessoas como a Denny e principalmente a autonomia e independência do Ministério Publico, talvez não tivéssemos sido vitoriosos.

5 - Um dos maiores impasses na sociedade atual é a contraposição desenvolvimento x preservação. Algumas correntes, especialmente governos, afirmam que é impossível desenvolvimento econômico sem causar "impacto" na natureza. Já outras correntes, especialmente pesquisadores, afirmam que é possível promover um desenvolvimento sustentável. Para você, é possível se desenvolver preservando?

Edson: É muito mais que possível, é fundamental. Para a nossa sobrevivência, é necessário que cada cidadão repense seu modo de vida, e em particular as autoridades que revestidas do poder transitório, que não tem compromisso com o amanhã, como se a decisão que tomam não lhes afetassem no futuro, ou aos seus descendentes. Nós temos que tratar nosso patrimônio maior, o planeta, lembrando que estamos pegando ele emprestado de nossos filhos e netos, portanto temos que deixá-lo no mínimo igual de quando pegamos e o usamos.

6 - Temos visto no congresso manobras de parlamentares para tentar flexibilizar o código florestal. Por que razões estariam fazendo isso e quais podem ser as conseqüências futuras?

Edson: Como dito pela ex-ministra do meio ambiente, temos visto diversas tentativas de se alterar a legislação ambiental, arduamente construída ao longo de décadas, em um momento em que precisamos justamente do contrário, em face de toda uma conjuntura negativa que vivemos em nosso planeta. Alterar a legislação só significará retrocesso e não avanço, podendo se transformar em uma “pá de cal” sobre o meio ambiente e sobre nossas próprias cabeças.

7 - Em sua opinião, quais são as responsabilidades de cada parte da sociedade em relação a preservação ambiental ? O que você mudaria? O que cada cidadão pode fazer em seu cotidiano para preservar o meio-ambiente?

Edson: Parodiando alguém, posso afirmar que “nunca na nossa história sobre este planeta, se fez tão necessário as mudanças de hábito e comportamento individual”. Para que haja alguma chance de nossos descentes sobreviverem, se faz necessário avaliarmos primeiramente nossos hábitos de consumo, que é a mola propulsora que matem a maquina da produção girando e aumentando progressivamente com o incremento populacional sem controle. Em resumo, digo usando a situação de um queijo e um casal que com o passar dos tempos, vem chegar os filhos que vão crescendo e a porção de queijo fica cada vez menor! O “queijo” são os recursos naturais de nosso planeta redondo e finito. Se não houver uma redução de fato da curva de crescimento populacional, não haverá “queijo” para todos. O fato é agravado pelas conseqüências do aquecimento global, que poderá reduzir ainda mais a disponibilidade dos recursos naturais, a exemplo do que já está acontecendo com o branqueamento dos corais com a destruição significativa de partes dos ecossistemas marinhos tropicais, levando junto importantes fontes de recursos alimentares.

Quanto ao que fazer, veja neste site de Fradinhos as mais de 50 dicas que você pode seguir para tornar sua existência menos impactante ao meio ambiente.

8 - Fala sobre a caminhada ecológica da Associação dos Amigos do Parque da Fonte Grande que irá acontecer no próximo dia 7.

Estamos prevendo a participação de um bom número de pessoas nesta caminhada, em particular em função da mobilização da comunidade de Fradinhos em relação à questão do assentamento que a PMV, ainda pretende construir no bairro, contrariando a legislação e a opinião dos moradores. Creio que possa estar existindo o embrião de um movimento de repúdio a essas e outras arbitrariedades cometidas em relação ao meio ambiente de nossa capital. Perante a situações semelhantes como a autorização equivocada da construção dos prédios na enseada do Suá, a redução do parque municipal no Bairro Vermelho, e a construção do condomínio Von Schildem na Praia do Canto, as comunidades estão se manifestando e isso pode se transformar em um agente motivador para usarmos a caminhada como um espaço aberto para as pessoas falarem um pouco dessas angustias e também da construção de uma esperança de termos um mundo melhor.

Tragam seus filhos, sua bandeira, verde-amarela, branca, seja de que cor, mas venha participar desse momento, pois será inesquecível.

9 - Algo mais que queira considerar?

Edson: Para aqueles que acham que não vale a pena lutar pela causa ambiental, que participem conosco da 9a caminhada, para ver se vale ou não a pena a gente ter que desafiar o(s) Golias, e vencer as batalhas a favor da natureza. Obrigado


Mini-curriculum


 Nome: EDSON VALPASSOS REUTER MOTA

 Cargo/Função atual: Sócio da VALPASSOS & VALPASSOS CONSULTORIA AMBIENTAL e Professor do Curso de Pós-graduação em Educação e Gestão Ambiental da Faculdade Saberes desde 2007.

 Formação: Biólogo formado em 1980, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Mestre em Ciência Florestal pela Universidade de Viçosa, em 1990.


EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL:


• Analista Ambiental da TIMENOW Engenharia trabalhando na Sun Coke East (ARCELOR MITTAL).

• Biólogo do Projeto Terra da Prefeitura Municipal de Vitória,

• Coordenador e Professor do Curso de Pós-graduação em Análise e Gestão Ambiental do Centro Univ. de Vila Velha, de 05- 2001 a 12-2007

• PROFESSOR no Curso Pós-graduação em Conservação e Manejo da Diversidade Vegetal do departamento de Ciências Biológicas da UFES – Univ. Federal do Espírito Santo com o módulo “Unidades de Conservação”, em 2007.

• INSTRUTOR no Curso de “Gestores Ambientais” do Programa de Capacitação do SISNAMA, promovido pelo IBAMA e ANAMA, realizado pela UNIVIX e IEMA, com 40 horas, com o módulo de “Unidade de Conservação” de julho a dezembro de 2007.

• Ex-Gerente da gerência de Rec. Naturais do IEMA

• Coordenador Estadual do Cons. da Res. da Biosfera da Mata Atlântica no Est. do ES;

• Ex-Coordenador das Unidades de Conservação do IDAF e Ex-Gerente das seguintes unidades de conservação: Parq. Est. Paulo César Vinha; Parque da Fonte Grande, Parq. Estadual da Pedra Azul, Parq. Estadual do Forno Grande, Reserva Biológica de Duas Bocas.

• Coordenador da Revisão do Plano de Manejo do Parque Municipal do Morro da Manteigueira administrado pela Prefeitura Mun. de Vila Velha – (em andamento)

• Coordenação Técnica do Plano de Manejo do Parque Municipal de São Lourenço administrado pela Prefeitura Municipal de Santa Teresa.

• Elaboração do Projeto de Sinalização Turística, Educativa e Interpretativa do Centro de Desenvolvimento Ambiental Guaçú-Virá, em Pedra Azul , Domingo Martins.

• Elaboração e implantação de Projeto de Cinturão Verde da Área da INTERPORT, de março de 2007 à maio de 2008.

• Diagnóstico do Meio Biótico da Área da INTERPORT, em fevereiro de 2006.


OUTRAS INFORMAÇÕES ADICIONAIS:


Recebeu em 5 de junho de 2005 a medalha de mérito ambiental Paulo César Vinhas pela Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo.

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